O amadurecer na incerteza

Certos de cada passo que devemos dar por vezes nos tornamos tratores violentos que passam por cima de tudo para alcançar o propósito do caminho que achamos ser o nosso.

Lavramos a terra sem observar suas mensagens, acabamos com a paisagem original manejando-a a nosso gosto e alcançar facilidade e conforto, para que durante a caminhada não nos confrontemos com obstáculos nem nos machuquemos com os espinhos.

Desmatamos a vida existente para criar uma estrada para a nossa caminhada, como se o que existisse não fosse o suficiente para realizar o nosso processo. Mentes inventivas que querem criar o que sempre esteve disponível. Áridas a ponto de não reconhecer os elementos já disponíveis para sua jornada. Um  equivocado posicionamento de entendimento que replica-se em forma de cegueira e pretensão desdenhada de que a vida em si não basta.

A incerteza nos abre espaço para observar o cenário. Nos coloca no papel expectador para assistir o filme sem que tenhamos domínio para que história seja mudada. Observar sem reagir faz com que dentro, naquele recôndito escondido, algo volte a ser acionado. Um despertar silencioso, que na não-ação amplia o sentido da vida.

Quando a mente não consegue planejar linearmente os próximos passos entramos em um estado de vulnerabilidade evolutiva que, por mais que o condicionamento pelo controle não o aprove, constatamos que nos render a algo maior que o limitado entendimento nos leva a riqueza que nos habita e que distraídos com a abertura de caminhos, nem sequer sabíamos de sua existência.

A incerteza é uma etapa importante para acionar novamente o que adormecido em nós esteve por tanto tempo. Atuar assertivamente resulta do processo de abertura a vulnerabilidade que a incerteza promove, levando-nos mais fundo em nossos próprios desdobramentos, sendo que isso se torna possível apenas quando a zona de conforto do que nos é conhecido é transcendido. Quando a certeza nos falta, a vida em si, fala.